sábado, 6 de setembro de 2008

Da vontade de navegar rumo ao fim do mundo.


O vento na proa me arranca lágrimas dos olhos. Voltei a navegar. Sinto-me incapaz de viver em terra. Essas perguntas todas sem respostas, essas interpretações equívocas de olhares que não existiram, essa falsa certeza de que algo mudou. Não adianta, eu não tenho lugar em terra. Eu não pertenço a este lugar.


Eu não tenho lugar.


Nem nos bares da esquina, nem nos cafés, nem nas famílias sorridentes, nas rodas de conversa, na boemia, no cotidiano. Eu não tenho lugar em terra.


Sinto uma vontade quase incontrolável de berrar com as pessoas, perguntá-las em que expressão elas se escondem, afinal. Sinto vontade de gritar, de chocar, de estarrecer. Mas aqui, na proa, vejo o barco cortar as ondas, ouço o vento gemer, vejo o sol desaparecer. Vejo que uma vida em terra firme não tem o menor sentido. Mas não me queixo, nem lamento estes meses em terra firme. Lamento ter acreditado. Creio que vive mais feliz quem olha o mundo com um olhar displicente, desacreditado, apático. Indiferente.


Essas sensações todas não me aproximam de nada.
Como deve ser excitante a frieza de encarar o desconhecido.
Esses sonhos todos não me aproximam de nada.


Anda por léguas pela terra, amigo, e verá que a terra acaba no Mar. O Mar não tem fim. Só ele é eterno.