quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Foto: Howard Schatz


Ontem, depois de uma longa tempestade, eu caí do barco e vim parar aqui, na água. Você ficou e me observava atônito, porque nada podia fazer. Eu sentia meus dedos escorregarem entre os seus... te observar me entorpecia.

O mundo além da linha d’água parecia uma imagem distorcida, mas não você. A sua imagem incorruptível me atraía e me mantinha flutuando próximo à superfície, esta barreira que eu não podia transpor. A linha d’água era o último limite entre nós e o toque. Depois do toque, tudo se misturaria, tudo se fundiria, tudo se confundiria, tudo se equilibraria.

Eu me sentiria menos aflita com todos os olhos do mundo observando meu corpo nu, que com a possibilidade de não ter os seus dois olhos velando pelos meus, agora, embaixo d'água. Por que a minha vida sem você teria menos sentido agora, embaixo d'água. Eu poderia suportar a apnéia, a longa espera, até a partilha. Jamais a partida.

A linha d’água é como um espelho. A cada recuo seu, a cada passo para trás, eu mergulho no breu e afundo um pouco mais.

De onde você me observa, todo o peso do mundo flutua como um grande navio cargueiro flutuaria. Todas as mãos do mundo não poderiam me manter aqui, embaixo d'água. Apenas o fitar distante dos teus olhos poderia me sugar para o fundo, e então eu não resistiria.

O temor que o abandono inspira é abissal. Todas as luzes são fracas, todo o calor é vácuo, todas as ondas são vagas e todas as horas estáticas.

Por favor, não solte a minha mão agora.

5 comentários:

ψ Gustavo R. de O. disse...

A superfície, vista do fundo do mar,também é turva.É preciso mergulhar e equiparar-se à quem se encontra submerso, assim é possível enxergar nitidamente.
É preciso entender, também, que muito é despejado no mar, por isso, às vezes, quem está submerso vacila em apreciar certos tesouros... talvez pelo medo de ser apenas uma visita, um mergulho sem promessas.

Quem mergulha deve ser claro em suas intenções.
Mas, nem sempre o que está no fundo das águas é digno de um mergulho.

ψ Gustavo R. de O. disse...

rs
Pois é, beca.
Não há como negar nossas afinidades.Também me identifico muito com o q vc escreve.
"beca vivas de cuecas", eu rs
Não é para tanto. Acho q somos experimentados de formas parecidas.

Quanto à música, quero ouvi-la quando estiver pronta. Está bem?
Um beijo

Anônimo disse...

olá. achei interessante. se fosse rock definiria como progressivo, hehehe...

a suprfície muitas vezes é aquela linha fina por onde andamos. na vida estamos sempre escolhendo para que lado podemos ir.

até mais. e se quiser retribuir a vizita fique a vontade.

Henrique Monteiro Alive disse...

Não demore muito na água. A menos que tenha alguém para ir na superfície e voltar lhe trazendo ar, o seu fôlego acabará.

e-Chaine disse...

Muito bom!
Adorei msm!

Boa semana.