sexta-feira, 5 de junho de 2009

Carta sobre um delírio.


Remo.
Remo devagar, ele dorme. Remo e respiro tranquilamente, enquanto ele ressona. Jamais senti tamanha paz sobre a água.

Ele não faz idéia, porque dorme. Ponho os olhos no mar e depois nele, olhos no mar, olhos nele. Devagar, enquanto remo.

Ele se vira, resmunga, desperta, me olha, sorri. E volta a dormir. E a ressonar e a me esquecer. Talvez eu não exista nos seus sonhos, mas o resto do mundo desaparece dos meus.

Remo e não há farol que magnetize o meu olhar enquanto ele dorme. Remo na direção do seu olhar, ao qual nunca chego.

Remo e submeto minhas minguadas capacidades físicas ao prazer de embalar seu sono. Descanso enquanto remo. E remo por horas, dias, meses.
Remo.



Imagem: Claude Monet - The Rowing Boat.