sexta-feira, 5 de junho de 2009

Carta sobre um delírio.


Remo.
Remo devagar, ele dorme. Remo e respiro tranquilamente, enquanto ele ressona. Jamais senti tamanha paz sobre a água.

Ele não faz idéia, porque dorme. Ponho os olhos no mar e depois nele, olhos no mar, olhos nele. Devagar, enquanto remo.

Ele se vira, resmunga, desperta, me olha, sorri. E volta a dormir. E a ressonar e a me esquecer. Talvez eu não exista nos seus sonhos, mas o resto do mundo desaparece dos meus.

Remo e não há farol que magnetize o meu olhar enquanto ele dorme. Remo na direção do seu olhar, ao qual nunca chego.

Remo e submeto minhas minguadas capacidades físicas ao prazer de embalar seu sono. Descanso enquanto remo. E remo por horas, dias, meses.
Remo.



Imagem: Claude Monet - The Rowing Boat.

4 comentários:

Salier Castro disse...

Olá!Me identifiquei com seu blog, sou ligada em mares, talvez por ter nascido durante uma viagem de barco.Ah, também sou amante de cartas.Muito legal.Abraço.


P.S:Gosto muito de sua cidade "a Bahia tem um jeito".Seu mar é espcialíssimo.

e-Chaine disse...

Se há forças para remar, o deleite chegará, quando menos for esperado...

Abraço.

ψ Gustavo R. de O. disse...

Quem sabe o delírio está apenas em conjecturar sua ausência nos sonhos do tripulante.
E você continua escrevendo bem!
Tchau beca!

Marina disse...

Faz-se qualquer coisa para fazer feliz a quem se ama. Mesmo que seja remar, para embalar seu sono.

Visualizei a cena e me encantei com ela. Linda cena. Lindas palavras.