sexta-feira, 14 de maio de 2010

Carta sobre a Esposa do Marinheiro.


Como esta mulher me comove!

Páginas, cantos, versos e lendas enaltecem o seu silêncio resignado e a sua espera constante. Crêem-na atada ao cais, paciente. Crêem-na frágil, gasta, cansada, deserta, ilha.
Crêem-na obediente e nula.
Crêem-na solitária.

Boatos atestam sua frigidez. Homens insensatos a cortejavam quando o marinheiro estava ausente.
Boatos garantem sua fidelidade imaculada, a despeito dos vestígios das outras muitas mulheres. Tantas mulheres quanto as ondas do mar, teve o marinheiro. E ainda tinha. Boatos asseguram.

O marinheiro, que a ama, justificava assim a sua existência. Ela, sempre grata e fervilhando de paixão, retribuía com um largo sorriso espontâneo.

Ontem encontrei a esposa do marinheiro. Ela, mais uma vez, comoveu-me. Nada sabia da atracação da balsa que trazia o seu marido. Eu sabia, porque vinha do cais.
Eu poderia jurar que ela corou. A ilha, afogadilha, esvaiu-se em seu novíssimo vestido vermelho. Crédulo pensava: "rubra de saudade, vai às pressas rever o marido", quando notei, distraído, logo adiante, um belo moço jovem que a aguardava impaciente.

Um comentário:

Marina disse...

Creio-na livre. Como sempre deveria ter sido.

Linda carta.