sábado, 16 de julho de 2011

À Deriva

Imagem: "Open Sea" por John W. Clark.


Vocação/ vontade/ virtude.
Não há gravidade para manter firmes os passos, nem o barco.
Não há horizonte nem bússola. Nem estrelas ou sextante.
Errar é um vício. Visto-me para zarpar e já nem lembro para onde.
Coleciono coordenadas de tempos obscuros. Cadernos repletos de borrões.
Erro para reclamar o recomeço. Erro porque me esqueço de onde parti.
Erro para justificar a ida para onde nunca estive.
Erro para não ter que lembrar quem deixei ao sair.

A virtude do irresponsável é a leveza. Caminhar sobre a areia úmida do litoral, sem deixar pegadas, sem registros, sem presença. Sem antecipar, sem antever, sem vésperas.
Sem passo passado.
Desmemoriado reincidente. Nem culpado, nem inocente. Livre.
Ateu. Sem ética, sem remo, sem quilha, sem quina. Redondo como as voltas intermináveis de um mundo de que observa mas não vê. Insensível, ignorante, inerte. Redundante em sua incerteza.

Deixa, deixa ela ir embora.













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